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As fraudes e irregularidades no recebimento do auxílio emergencial chegaram ao universo do crime e também no exterior. Reportagem exibida ontem no “Fantástico”, da Rede Globo, mostrou que 11 dos 22 criminosos mais procurados do país — entre traficantes, assassinos e ladrões de banco — receberam os R$ 600 do programa do Ministério da Cidadania. Além dos foragidos, brasileiros que moram no exterior também foram beneficiados com a medida de preservação para os mais vulneráveis.
A investigação do “Fantástico” foi feita a partir da lista de foragidos, publicada no site do Ministério da Justiça e Segurança Pública. A reportagem cruzou os nomes dos criminosos mais procurados do país com a base de dados de solicitantes do auxílio emergencial. Na identificação do cadastro de 11 deles, os recursos constavam como liberados.
Ao todo, 58 milhões de brasileiros tiveram o requerimento aprovado e liberado por Caixa e Dataprev, responsável pela análise dos cadastros.
Outro foragido beneficiado é Leomar de Oliveira Barbosa, o Léo Playboy. Condenado a 36 anos de prisão, ele era o braço direito de Fernandinho Beira-Mar. Desde 2018, Léo Playboy é procurado pela Polícia Federal.
Especialistas ouvidos pelo “Fantástico” suspeitam que não tenha havido o cruzamento das informações prestadas no cadastramento do auxílio com outras bases de dados disponíveis, como a do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e a do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
Gasto de R$ 16 milhões
Segundo o relatório de investigação da CGU (Controladoria-Geral da União), obtido pela reportagem, mais de 27 mil foragidos, em todo o país, tiveram o auxílio emergencial aprovado pela Caixa. Só com o pagamento da primeira parcela, liberada para essas pessoas, o governo federal gastou mais de R$ 16 milhões. Em São Paulo, por exemplo, o benefício foi liberado para 6.879 foragidos. No Rio de Janeiro, para 825.
Além de criminosos, a investigação da CGU identificou golpistas que receberam os recursos utilizando dados de pessoas que já morreram, além de presos que se cadastraram com celulares que circulam dentro das cadeias.
Moradores no exterior também estão recebendo os recursos de modo irregular. Em Portugal, brasileiros confirmaram, em conversas em grupos de aplicativos de mensagens, que deram entrada no benefício. Em chats também obtidos pelo “Fantástico”, uma das brasileiras chega a brincar: “Já dá pra fazer um churras (churrasco).” Uma outra pessoa tentou justificar, alegando a alta carga tributária paga quando morava no Brasil: “Tanto desconto lá e nunca fui beneficiada. Eu fiz e deixei na poupança das crianças.”