Uma investigação do Ministério Público do Piauí concluiu que os quase 200 presos da Cadeia Pública de Altos que adoeceram durante os meses de maio e junho foram vítimas de envenenamento, causado por uma dedetização realizada sem os cuidados necessários, no início de maio. Seis dos presos faleceram vítimas da intoxicação. A Secretaria de Justiça negou que essa seja a causa da intoxicação.
O coronel Luís Antônio Pitombeira, diretor de assistência militar da Secretaria de Justiça, argumentou em entrevista à TV Clube que os detentos da CDP de Altos começaram a apresentar sintomas dias antes da dedetização citada pelo Ministério Público, e que a dedetização teria sido realizada apenas na parte externa da unidade, e não dentro das celas ou áreas com que os presos tenham tido contato.
Segundo o coronel, a secretaria criou um comitê de gerenciamento de crise que atua para descobrir as causas do surto que atingiu a unidade prisional, mas o comitê não teria chegado a uma conclusão até o momento, e aguarda resultado de exames laboratoriais. Ele disse ainda que nove presos tiveram diagnóstico confirmado para leptospirose, doença transmitida pela urina de ratos.
Investigação do Ministério Público
Familiares de presos da Cadeia Pública de Altos fazem protesto diante do Tribunal de Justiça, em Teresina (PI) — Foto: Murilo Lucena/ TV Clube
Segundo o promotor Elói Pereira Júnior, da vara de execuções penais do MP, a conclusão vem de uma análise pericial em mais de cem prontuários médicos dos presos que adoeceram, feita pelo setor médico do Ministério Público, e das conclusões dos médicos que atenderam os detentos tanto nos hospitais como dentro da Cadeia Pública de Altos. Segundo o promotor, a conclusão é unânime entre os médicos.
A dedetização teria acontecido no início do mês de maio, realizada por uma empresa particular a serviço da Secretaria de Justiça. Segundo o promotor, o serviço custou cerca de R$ 22 mil e uma nota fiscal eletrônica da prefeitura de Teresina registrando o pagamento do serviço foi emitida no dia 7 de maio.
“Um médico que atendeu presos na unidade revelou que essa dedetização foi feita sem cuidados necessários. Teria que deixar pelo menos 12 horas as pessoas distantes do local onde foi aplicado o produto, o que não aconteceu”, disse o promotor.
Diante dos resultados, o Ministério Público recomendou a exoneração do secretário de justiça Carlos Edilson. O promotor disse ainda que as informações obtidas por essa investigação do Ministério Público serão remetidas para o Governo do Estado, para a Delegacia de Direitos Humanos, que investiga o caso, para a promotoria de justiça e para o Ministério da Saúde.
“Não anunciamos antes porque não tínhamos essa documentação. São provas de que houve uma dedetização no inicio de maio e, a partir daí, que os presos começaram a adoecer, aproximadamente 200. Seis deles vieram a falecer. Se esse fato fosse divulgado antes, poderíamos ter evitado mortes e adoecimentos”, disse o promotor.